terça-feira, 9 de outubro de 2012

Dias Cinzas




Há alguns dias o poeta veio e nos alertou que a primavera estava vindo andar pelos campos e devolver a cor e o cheiro de dias coloridos repletos da alegria de um café da tarde com os amigos, sem hora, sem compromisso e principalmente sem pressa...

O poeta, talvez um desavisado, sonhava que tudo seriam flores novamente. Ele não percebeu que esse ano o inverno nem foi tão frio e talvez as folhas não tenham despencado no outono.

O poeta brincou tanto com com a rosa dos ventos que perdeu a direção de seus passos e se desorientou. Está perdido no tempo, no espaço e nos atos. Seria esse o terceiro ou o quarto ato de sua vida de poeta? Seria esse o momento em que ele vira a página repleta com seus versos de rimas ricas e se deixa levar pela emoção das flores? Que flores?

O poeta guardou rebanhos, e os rebanhos eram seus sonhos, o poeta navegou por além do Bojador, tirou a pedra do meio do caminho, mas e agora José? O show acabou e porque não se vê as flores pelos campos?

É... Talvez o inverno tenha se acabado, mas não no coração do poeta, que sente o frio vento da angustia de dias cinzas que pareciam ser feitos em photoshop. Cinzas com pequenos pontos de cor, mas que acabam se tornando preto e branco em breves lapsos de realidade.

O poeta chora, ri, se perde no tempo em meio a vontade de se tornar algo, de ser alguém. de entrar em uma tabacaria e deixar o tempo passar, afinal,

Se soubesse que amanhã morria E a Primavera era depois de amanhã, Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?


Talvez o que o poeta precisa é encontrar o seu rumo, é colorir com os tons de primavera e o cheiro das flores as páginas dos seus dias... Talvez seja esse o sentido da primavera, plantar as sementes no outono, deixar que elas sofram com o inverno para que na primavera floresçam e encantem, mas e esses dias cinzas? Em que estação estaria o poeta?

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