quarta-feira, 3 de novembro de 2010

CASTELOS DE AREIA



O castelo surgiu na idade média com uma função: proteger os reis, suas famílias e seus bens em tempo de guerra. Geralmente eram construídos em lugares elevados de onde era possível enxergar ao longe qualquer ameaça e tinham em sua volta um grande fosso preenchido com água para dificultar a entrada do inimigo. Eram de pedra, porque em seu interior havia guardado algo de muito valor, sejam os bens ou a vida.

Hoje parece que esquecemos as lições da idade média e invertemos um pouco os papéis. O nosso castelo passou a ser construído de areia, é mais fácil e rápido de se erguer outro caso ele seja atacado e caia por terra ou a onda o leve ao chão.

Construimos em um lugar qualquer, não precisamos e nem queremos ver o que está em nossa volta por mais que isso queira se mostrar. Fechamos os olhos frente aos problemas do mundo única e exclusivamente por comodismo. A não ser quando eles invadem a nossa casa como um furacão...

Tanto faz quem é que tem acesso aos nossos bens mais preciosos. Damos a chave e o poder de imperar em nosso território a qualquer pessoa que se pareça legal, "ah mas ele era tão bonitinho, parecia tão bem intencionado"... E quem imaginaria que dentro do cavalo poderia haver soldados em Tróia? Se ao menos alguém tivesse inspecionado antes de levar para dentro dos muros.

E para finalizar, como a proteção é frágil, é de areia, o nosso coração acaba se tornando de pedra para compensar. Não sentimos, apenas nos deixamos envolver. Perdemos e nos contentamos com a derrota por termos nos envolvido com uma camada grossa de orgulho. Precisamos nos esconder por muitas vezes de nós mesmos para não corrermos o risco de destruir nossa pseudofortaleza e nos depararmos com o diamante raro que somos.

Enquanto construirmos frágeis fortes de areia e endurecermos o nosso coração para compensar isso, não iremos conseguir sentir a beleza de cada amanhecer, ouvir a poesia das horas e a liturgia do tempo para nós não fará sentido. Nos tornaremos escravos dos minutos e daqueles que estão em nossa volta, nos nossos frágeis muros de barro.

Derrubemos as paredes frágeis, ergamos outras fortes para proteger o jardim secreto de nossa alma. Somos templo sagrado, território santo, não nos deixemos invadir por qualquer um que tenha vontade de passear pelos caminhos de nossos bosques, que tente roubar pedaços de nossas terras. Levantemos as paredes e sintamos, a cada amanhacer, o cheiro da rosa que desabrocha delicada em nossa janela ao cantar dos passaros.

Um comentário:

  1. É quantas vezes não percebemos que estamos fazendo isso endurecendo nosso coraçao por causa de comodidade !!!

    Belo texto Thiago, você está cada vez montando textos cada vez melhores...

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